Porque nem tudo aquilo que se escreve é das partes más da vida, falo hoje daquilo que para mim é uma alegria e é a razão daquilo que escolhi para mim. A princípio aquilo que aqui vou falar não tem nada de bom, nada de alegre, muito pelo contrário.
Faz hoje, dia 10 de Fevereiro, 12 anos que na minha família se abateu a pior notícia. À minha avó paterna foi-lhe dito que sofria de um «mal ruim». É assim que lhe chamam no Norte ao cancro. Cientificamente aquilo que a minha avó tinha era sim um carcinoma raro na glândula parótida direita, ao qual poucos ou nenhuns sobrevivem. Todos estavam muito poupo preparados para a notícia, muito menos a minha avó. Viveu uma vida a trabalhar no campo, ao frio de morte, ao sol ardente e ao vento que lhe seca a pele, para que no meio da sua vida se soubesse que o fim podia estar próximo. Sim, podia, porque realmente não estava assim tão próximo.
Foram ainda alguns anos de suplício, de cada vez que a família se juntava sentia-se aquele clima muito tenso, como se fosse a última vez que estivéssemos ali, todos juntos e felizes. Cresci naquela ansiedade familiar e aprendi o segredo que os adultos tanto falavam. A nós, filhos dos filhos, nunca nos foi dito directamente aquilo que se estava a passar. Era assunto tabu, mas que todos temiam. A única coisa que me era dita era apenas: a avó está muito doente. Não passava disso, mas sinceramente eu queria saber mais.
Hoje sei aquilo que se passou e aquilo que se passa. De meio em meio ano a minha avó visita o médico que a seguiu desde sempre. A última palavra que ele lhe deu foi: Parabéns. Faz ainda uma «mini-quimioterapia» em casa para que o seu follow-up seja o mais rigoroso possível. Ao fim de 12 anos ainda há medos, receio. As recaídas podem acontecer, e por muito que uma pessoa já esteja informada sobre a doença, a preparação é sempre muito reduzida.
É uma alegria enorme ver que finalmente as coisas começam a voltar ao normal. Claro que há sempre os cuidados necessários, mas muito mais à vontade do que era antes. Acompanhei a minha avó a voltar a cozer pão, ao fim de 12 anos afastada desta actividade. Vi na cara dela a alegria e a esperança que poucos olhos transparecem. Senti a felicidade e o amor mais puro junto daquele velho forno.
Gestos pequenos, coisas fúteis, banais e muito normais, fazem falta ao nosso dia-a-dia. Tanta falta como os grandes acontecimentos. E por falar em grandes acontecimentos: a minha entrada no curso de radioterapia deve-se muito à esperança que posso dar a mais pessoas, e a minha avó está por detrás deste querer. Também a minha avó materna sofreu deste mal, mas o final não foi tão feliz. Um dia conto aqui o que se passou.
Atrevo-me ainda a dizer que é por elas que um dia gostava de salvar alguém e ver essa pessoa sair de um pé de mim com o dobro da vitalidade :) Felicidades a todos aqueles que vencem e coragem a todos os que batalham. :)
Para as Marias, com amor **
Atrevo-me ainda a dizer que é por elas que um dia gostava de salvar alguém e ver essa pessoa sair de um pé de mim com o dobro da vitalidade :) Felicidades a todos aqueles que vencem e coragem a todos os que batalham. :)
Para as Marias, com amor **
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